Inscrições e informações: Instituto de Artes do Pará (IAP), Gerência de Literatura - 40062905 ou 2908.

quarta-feira, 20 de março de 2013

EXIBIÇÃO DO FILME "FOUCAULT: LOUCURA DESRAZÃO" E LANÇAMENTO DO LIVRO "A CORAGEM DA VERDADE" (Aliança Francesa Belém, 22 de março as 19 h)


Ney Ferraz Paiva havia lançado um desafio – retornarmos à forma entrevista. Digo ‘retornar’ porque havíamos nos exercitado a ela há alguns anos atrás no que se tornou ‘anexo’ em meu livro "antonin artaud, meu próximo". Fora uma sensação ótima a de receber os desafios de Ney por e-mail - a forma ‘pergunta’, e a possibilidade de escrever na direção a que eu me lançasse. Isto porque Ney tem a arte de sugerir questões que não te sufocam à quadra da resposta. Anos se passaram, e creio que foram muitos os percursos que foi ganhando o meu trabalho de pesquisa e de escrita – o ingresso à América Latina e as cartografias do horror que a ela se destilaram desde as experiências recentes das ditaduras cívico-militares; os encontros apaixonados com as obras literárias de autores que fui descobrindo: Ernesto Sabato, Haroldo Conti, Paco Urondo, Rodolfo Walsh, Juan Gelman. E tantas outras coisas como os mergulhos ao cinema, a leitura dos filmes, certas outras descobertas, Cioran, José Lins do Rego, o trabalho com a literatura de testemunho, os testimonios de aqui nós os de latinoamérica. Muita coisa estava por ser repensada do que eu tinha feito há anos, muita coisa a ser delineada no que eu me dou ao trânsito, muita coisa a este olhar que acena adelante.

André Queiroz


"A CORAGEM DA VERDADE"
ANDRÉ QUEIROZ POR
NEY FERRAZ PAIVA

domingo, 10 de março de 2013




M. Blanchot como o imagino

(…) Algumas palavras pessoais. Não sei quem é Blanchot. Quando o comecei a ler, já ele era, e eu começava a ser nos textos dele. O importante, contudo, está neste «já ele ser», porque desde sempre (ou, para sermos mais rigorosamente imprecisos: desde esse momento indeterminável em que o li pela primeira vez), o facto de ele ser correspondia, pelo menos para mim, a ele deixar-se ser e deixar de ser.

Deixar-se ser, isto é, deixar que alguma coisa de si exista partilhável pelos outros, mas não fazer desta existência nenhum acto voluntário, nenhum projecto, nenhuma intencionalidade precisa – apenas um abandono, um desapego, uma distracção (mas: «sinto em viver um prazer sem limites»). 

Simultaneamente, deixar de ser, para Blanchot, é um movimento incessante de passar para a margem da sombra, da invisibilidade, da imensa noite do mundo, numa queda horizontal, deslizante e serena, clandestina e desdramatizada, por uma metódica eliminação dos sinais, cicatrizes, restos, despojos, feridas visíveis, até ficar, espectral, fosforescente, a moldura do nada (e: «terei ao morrer uma satisfação sem limites»). Talvez o decisivo esteja nesta indicação de «sem limites», que pode querer dizer que o movimento se faz para além de todos os limites, mas significa também que o movimento indiferencia os limites entre a vida e a morte, criando um espaço de indiferenciação que (só ele) permite pensar a diferença que o ilimita. No sentido exacto em que Blanchot nos previne de que há coisas que só são pensáveis através do desejo de as pensarmos.

Mas não saber quem é Blanchot começa por ser não saber que rosto assume na claridade de cada dia. De certo modo, ninguém o viu. Os que falam dizem apenas que o entreviram (ou, noutros casos mais repassados de intimidade, entredizem apenas que o viram). Perguntei a Georges Mounin e ele respondeu: tive com ele uma polémica a propósito de René Char, tentei falar-lhe, mas na Nouvelle Revue Française explicaram que era impossível, que nunca aparecia, que os textos se trocavam através de uma caixa de correio, abandonados misteriosamente, recolhidos misteriosamente, num comércio quase anónimo. Perguntei a Duras, e ela respondeu: veio a minha casa muitos anos, estávamos juntos muitas vezes, uma vez por semana, às vezes nunca, quando não era possível, e depois deixou de ser possível, e ele não veio mais, a última vez que o vi foi em Maio de 68, continuava como sempre foi, «alto e magro como um deportado». Insinuo que poderia corresponder à personagem de Stein em Détruire, dit-elle (no cinema: Michel Lonsdale), e a resposta é: talvez. Pergunto a Jacques Derrida, e ele responde: lembro-me vagamente de o ter visto uma vez, e depois escrevemo-nos, mas ele escreve-me sempre como se fosse a última vez. Donde, não se trata apenas de um rosto de que não se conhece fotografia, mas de um rosto que não imprime mais do que a própria pressão de uma infinita ausência.

  

Por Eduardo Prado Coelho 

GISELDA LEIRNER

A FALA ERRANTE
Devemos, em primeiro lugar, tentar reunir alguns dos traços que a abordagem do espaço literário permitiu-nos reconhecer. Aí, a palavra não é um poder, não é o poder de dizer. Não está disponível, de nada dispomos dela. Nunca é a linguagem que eu falo.  Nela, jamais falo, jamais me dirijo a ti e jamais te interpelo. Todos esses traços são de forma negativa. Mas essa negação somente mascara o fato mais essencial de que, nessa linguagem, tudo retorna à afirmação, que o que nega nela afirma-se. É que  ela fala como ausência. Onde não fala, já fala: quando cessa, persevera. Não é silenciosa porque, precisamente, o silêncio fala-se nela.  O próprio da fala habitual é que ouví-la faz parte de sua natureza. Mas, nesse ponto do espaço literário, a linguagem é sem se ouvir. Daí o risco da função poética. O poeta é aquele que ouve uma linguagem sem entendimento.
Isso fala, mas sem começo. Isso diz, mas isso não remete a algo a dizer, a algo de silencioso que o garantiria como seu sentido. Quando a neutralidade fala, somente aquele que lhe  impõe silêncio prepara as condições do entendimento e, no entanto, o que há para entender é essa fala neutra, o que sempre já foi dito, não pode deixar de dizer se dizer e não pode ser ouvido, entendido.
Essa fala é essencialmente errante, estando sempre fora de si mesma. Ela designa o de fora infinitamente distendido que substitui a intimidade da fala. Assemelha-se ao eco, quando o eco não diz apenas em voz alta o que é primeiramente murmurado mas confunde-se com a imensidade sussurrante, é o silêncio convertido no espaço repercutente, o lado de fora de toda a fala. 
Maurice Blanchot, O espaço literário. Tradução de Alvaro Cabral. Rio de Janeiro: Rocco Editora, 1987.

terça-feira, 5 de março de 2013

Bert Krooshof
COLÓQUIO “BLANCHOT: LITERATURA, AMIZADE - UMA VIDA”
[Dez anos da Morte de Maurice Blanchot]

27 - 28 - 29 - 30 DE MARÇO - BELÉM | 2013
  

INSCRIÇÕES ABERTAS
IAP - Instituto de Artes do Pará
(91) 40062905 – 40062908


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 P R O G R A M A Ç Ã O
  
DIA 27 (QUARTA-FEIRA)
GALERIA THEODORO BRAGA | 19h00
ABERTURA DA EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA
BB: BLANCHOT|BELÉM
Série Corpo sem Órgãos - A Escrita sem Rosto
Por Daniel Lins |UFC

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Galeria Theodoro Braga
Endereço: Av. Gentil Bittencourt - nº 650 | Térreo
Belém (PA) - Fone: (91) 3202 431

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DIA 28 (QUINTA-FEIRA)
INSTITUTO DE ARTES DO PARÁ

17h00 – CONFERÊNCIA DE ABERTURA:
Blanchot: A Escrita Sem Rosto
Por Daniel Lins | UFC

18h00 – CONFERÊNCIA:
Por que alguém se fecha num quarto para escrever?
A literatura enquanto pergunta essencial
Por Eduardo Pellejero |UFRN

19h00 – CONFERÊNCIA:
Por Ernani Chaves |UFPA
  
DIA 29 (SEXTA-FEIRA)
INSTITUTO DE ARTES DO PARÁ

16h00 – CONFERÊNCIA:
Traduzir a voz de Blanchot
Por Éclair Antônio Almeida |UNB
& Amanda Mendes Casal |UNB

17h00 – CONFERÊNCIA:
Escrever, demônio perverso
Por Sheyla Smanioto Macedo |UNICAMP - NDC
18h00 – CONFERÊNCIA:
Blanchot e o experimento do comum
Por André Queiroz | UFF

19h00 – CONFERÊNCIA:
Sob o signo do rosto e da fisionomia
Por Patrick Pardini | Fotógrafo - Museu da Universidade Federal do Pará

20h00 – PEFORMANCE:
Maura Lopes Cansada de Deus
Por Denis Bezerra | UEPA
Texto de Ney Ferraz Paiva | Revista Polichinello

DIA 30 (SÁBADO)
INSTITUTO DE ARTES DO PARÁ


16h00 – EXIBIÇÃO DO FILME:
Blanchot Vida e Obra
Christophe Bident e Hugo Santiago

17h00 – CONFERÊNCIA:
Maurice: cenas de um estudar-junto
Por Luciano Bedin da Costa |UFRGS

18h00 – CONFERÊNCIA:
O direito à morte, a impossibilidade do fim e o desastre
Por Cid Ottoni Bylaardt | UFC

19h00 – CONFERÊNCIA:
Experiência da morte e amizade
Por João Camillo Penna |UFF

20h00 LANÇAMENTO: PLAQUETE BLANCHOT
Com textos de: Jacques Derrida - Lacoue-Labarthe - Christophe Bident - Jacques Lacan

  
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Instituto de Artes do Pará (IAP)
Endereço: Praça Justo Chermont - nº 236
Nazaré - Belém (PA) - Fone: (91) 4006-2900


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COMISSÃO ORGANIZADORA
Izabela Leal | UFPA
Denis Bezerra | UEPA
Alberto Amaral | UFPA
Samuel Campos | UEPA
Keyla Sobral – Artista Visual

CURADORIA
Nilson Oliveira
Ney Ferraz Paiva

segunda-feira, 4 de março de 2013

EXPOSIÇÃO: BLANCHOT: SOLIDÃO ESSENCIAL l SOLIDÃO DO MUNDO



Vídeo captado através de celular da exposição "BLANCHOT: SOLIDÃO ESSENCIAL | SOLIDÃO DO MUNDO", realizada na Galeria Theodoro Braga. A exposição faz parte da programação dos DEZ ANOS DA MORTE DE MAURICE BLANCHOT, cujo desdobramento final é o COLÓQUIO BLANCHOT: LITERATURA, AMIZADE  ̶ UMA VIDA, que acontecerá no período de 27, 28, 29, 30 de Março de 2013, no INSTITUTO DE ARTES DO PARÁ - IAP, Belém. Inscrições e informações: 91-40062905 ou 2908 Gerência de Literatura - IAP.


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

                                                               Foto: B L A N C H O T  | D U R A S
Dias 27 de Fevereiro, às 18h30
GALERIA THEODORO BRAGA

LEITURA DRAMÁTICA DO TEXTO:
A Doença da Morte – de Marguerite Duras
 
Av. Gentil Bittencourt, 650, Térreo | Belém 
Informações: (91) 32784578 - 32410655


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013




ECOS DE BLANCHOT & MAX


Velhos homens devem ser exploradores, não importa onde...
Temos de estar sempre nos movendo na direção de uma nova intensidade, de uma
união a mais, de uma comunhão mais profunda...
Nos movendo através de uma desolação escura, fria e vazia: O grito das ondas, o
grito do vento, as águas imensas das gaivotas e dos golfinhos: No meu fim está o
meu inicio (T. S. ELIOT).


Não há espaço, sem tempo. Não há tal coisa como espaço em branco. Sempre se poderá imaginar a vinda – a chegada. Que alguma coisa ainda deve acontecer. Dois homens, um romancista e um poeta, estabelecem um passível jogo. Que estejam tensos, pois o tempo constitui a tensão. Espaço-tempo se dividindo em dois. A respiração, realizada de volta entre um e outro, fala em tempo de silêncio, em espaço de silêncio – a literatura. Um dos homens atende à porta. Olha para baixo. A cabeça inclinada para o chão como um guardião na sala da hospedaria do Castelo. Apenas que aqui ele não está num retrato. Observada, a imagem não o confirma numa morfologia para os olhos que se tornará o demônio de uma longa época. Certo estrabismo a certa semiótica da reflexividade. Ele se desprende da foto, sem no entanto avançar no espaço. O outro não questiona a importância de ficar ali parado, uma vez que também está parado e recolhido em si. Sem rasgar a ilusão de espaço, na distância limite de um saltar para o outro, apertarem-se as mãos: se dá o duplo desvio. As mãos estendidas em silêncio criam lacunas, desprendem-se, desvanecem. Eles que sempre estiveram além dos horizontes da aparência. Agora, face a face, não têm como pronunciar um discurso de circunstância e lançar âncora entre os musgos. Um rastreou o outro, é verdade, mas sem nunca o mapear. Leu o livro “Thomas, o Obscuro” quando ainda escrevia seu segundo livro, e entregava-se definitivamente à feitiçaria do poema. O outro nunca o avistou. Este poderia ser o cenário tardio entre os dois homens. A respiração sempre foi o maior problema para eles. Passeando a vida, o fim à vista. Para eles o desastre cuida de tudo. E o rápido sorriso corajoso não bastaria. A aquiescência da cabeça. O olhar. Tudo isso assusta o inferno dentro deles. Por certo, ele deveria ter gostado de ler com minúcia e atenção insuperáveis o “Anti-Retrato” ou mesmo o “Caminho de Marahu”. A escritura do desterro que tanto o agradava. E teria visto Kafka e Paul Celan, em alguns versos. Os signos da solidão. A experiência do desmoronamento. A falta vivente do ser. Não teria sido exatamente isto a escritura desse outro que, alheio, estranho, lhe bate à porta, num fim de outono? O que seria o mesmo que dizer: desde que entrara para a poesia? Um homem de uma terra desfalecente, onde a vida e a cultura não passam de uma quimera? Onde o poema, justamente depois de um amplo movimento internacional de três poetas, passou a valer menos que qualquer slogan publicitário. Fora do mercado, ter que ganhar a vida – trocar, vender, perder, dar, recuperar, perder outra vez. Amores. Alegrias insensatas. As grandes dores. Um homem impelido a dar seus passos em direção ao ócio e ao silêncio. Para quem a amizade pela poesia não se estrutura em ter que percorrer o mesmo caminho. Amizade é mudar o caminho. Errá-lo. Não entrar na geração. Surpreendê-la pelos flancos. O Inesperado. Não esperar que se confirme a Revelação. E como aquelas doze baladas a que Nietzsche se refere que contamos sempre errado. Não há o encontro marcado, sequer conosco mesmo... “Mas como eu, ele foi parecido comigo”. De onde poderá ter ecoado isto?


Ney Ferraz Paiva, 20 de fevereiro 2013.
Imagem: Jacob Bijani